sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A diferença entre a solidão e a solitude

"Quando está sozinho, não está realmente só, está simplesmente solitário, e há uma grande diferença entre a solidão e a solitude. Quando sente a solidão, fica a pensar no outro, sente a falta dele. A solidão é um estado de espírito negativo. Sente que seria melhor se o outro estivesse ali (o seu amigo, a sua esposa, a sua mãe, a pessoa amada...)  A solitude é a presença de si mesmo. A solitude é muito positiva, é uma presença, transbordante. Sente-se tão pleno de vida que pode preencher o universo inteiro com a sua presença, e não há nenhuma necessidade de ninguém."
 
Osho The Discipline of Transcendence, V. 1 Chapter 2

Na primeira vez em que eu li este texto, passei a entender um pouco mais de mim mesma.
Porque, ao contrário da maré que me cerca, eu sempre prezei o estar só. A companhia de mim mesma.
Sempre acreditei que é primordial sentir-se bem consigo mesma, para só depois sentir-se bem com alguém ao lado.
E quase ninguém até hoje entendeu esse meu ponto de vista.

Acredito que isso, como praticamente todas as coisas que regem nossa vida adulta, veio da infância.
Eu era filha única. 
Meus pais, por questões profissionais, se afastaram de seus círculos familiares em uma distância de três dígitos de quilometragem e algumas horas.
os primos mais próximos ficavam a mais de duas horas de uma viagem de carro. E eles não me eram tão próximos assim.
Além disso, eu morava longe da minha escola, em um prédio onde a pessoa com a idade mais próxima da minha devia ser o meu pai, meses mais novo que minha mãe. Depois disso eram todos sexagenários pra cima - naquela época não existia melhor idade.
Resumindo: erámos eu comigo mesma pro que desse e viesse na maior parte do tempo.
Isso não se traduziu em uma criança tímida e introspectiva.
Muito pelo contrário. Eu conseguia ficar rouca antes mesmo de aprender a falar mamãe, tamanha era a minha vontade de falar com o mundo. Conseguia fazer amigos sem maiores dificuldades na praia, na escola, na piscina ou até no meu próprio prédio - finada Dona Benvinda e suas balas devem bem se lembrar disso.

Mas isso acabou de gerando o dom de estar sozinha mesmo estando em uma multidão.
E a apreciar isso - e em alguns momentos, até a ansiar por isso.

Fato é que estou refazendo o círculo.
Eu comecei sozinha, fui me cercando de pessoas, agregando companhias, mudando completamente até voltar ao ponto zero: sozinha de novo.

Nos próximos dias eu vou começar a entender mais sobre o quanto há de solidão e o quanto há de solitude em mim: vou morar sozinha. SO-ZI-NHA.